Desde 2006 notamos um grande interesse de companhias
farmacêuticas , até então totalmente ausentes ou atuando através de
distribuidores, a instalar-se no Brasil.
Este fato se evidencia pelo número de associados da
Interfarma, que naquela data eram pouco mais de 25 e hoje o número é maior que
o dobro deste total.
O que motiva esta guinada de companhias tão reticentes com
relação a nosso país é justamente as perspectivas de crescimento, antes da
economia como um todo, agora as taxas de dois dígitos anuais que apresenta o
nosso mercado. Nas economias desenvolvidas alguns mercados não passam de 2% ao
ano ou até apresentam inflexões.
Só que esta análise superficial, taxas de crescimento,
embora já indique uma necessidade de avaliar presença efetiva, necessita
aprofundamento nos mais variados aspectos, para que um start-up seja bem
planejado e não gere frustrações que muitas vezes levam a mudanças de plano
logo no começo do processo e demissões de equipes que têm a missão de iniciar
as operações.
Ambiente regulatório complexo e burocrático, sistema
tributário que encarece os custos, mudanças de regra do jogo, sem-número de
leis que travam estímulos ao empreendedorismo, tudo deve ser cautelosamente
considerado para que se entenda que sim, é importante estar no Brasil e também
os resultados serão positivos, mas dentro de uma perspectiva de médio e longo
prazo, pois haverá um período de dificuldades iniciais e há que sobreviver a
isso, entendendo que a recuperação do investimento e ganhos efetivos poderá
demorar de quatro a cinco anos.
Os desafios têm início muitas vezes na negociação com os
distribuidores que atuavam com os produtos até o momento em que a companhia
decidiu-se por afiliada própria. Serão eles parceiros no processo de transição?
Teriam eles a ideia de que continuariam com os produtos e por isso seriam
resistentes a cooperar? Realizavam um grande trabalho ou insatisfatório? Quanto
este(s)produto(s) representam no faturamento total da empresa?
Mesmo que entendam e tenhamos dado a eles todas as condições
para que nos apoiem na transição há que entender que a questão regulatória não
é fácil, pois nosso sistema não permite transferência de titularidade de
registros de produtos, somente por fusão,aquisição ou cisão de empresas.
Portanto por mais bizarro que pareça, a empresa detentora do registro terá de
cancelar seu registro e o start-up submeter um novo registro, simultaneamente,
para que a transferência de fato ocorra. E a ANVISA pode muitas vezes interpor
tantas exigências, testes e modificações de dossier que este novo registro pode
demorar até 2 anos.
Passado este período há que registrar novos preços, sim
porque é um novo registro e a comissão de medicamentos (CMED) terá de aprovar o
preço de comercialização. Dependendo do tipo de enquadramento que o produto
receba, o novo preço poderá ser comparado com os congêneres de comercialização
em nove países-referência e, pasmem, o preço no Brasil terá de ser o mais
baixo!! Saberiam os integrantes do board da companhia deste fato? E dos demais
mencionados neste artigo?
Outro desafio é a equipe que será montada para tocar um
start-up. Como será necessário atrair profissionais experientes e talentosos,
que atuam normalmente em grandes corporações farmacêuticas, trazê-los vai
custar caro. É sem dúvida importante para a carreira participar do lançamento
de uma companhia, mas ninguém virá para esta organização somente por um sonho,
há que considerar pagamentos de salários, bônus e benefícios superiores aos do
mercado, para que de fato consigamos trazer as pessoas que façam a diferença,
que conduzam vitoriosamente nosso start-up. Contratar pessoas pouco experientes
e sem todo o conhecimento estratégico necessário pode custar pouco no início,
mas sairá mais caro e demorará mais para que se atinjam os resultados
almejados. Lembrando que no Brasil se o salário é 100, o empresário tem uma
carga trabalhista média de 234.
Custos trabalhistas, cinquenta e sete impostos, controles de
preços, sistema regulatório, não estão aqui detalhados para desestimular a
vinda, pelo contrário os números e resultados de quem se instalou mostram de
modo insofismável que vale e vale muito à pena vir para o Brasil.
A renda da população cresceu e passou a cuidar mais de sua
saúde, adquirir medicamentos, utilizar os serviços de saúde. Também é positiva
a pressão da sociedade em geral por mais serviços na área do SUS e dos planos
de saúde. Muitas áreas-chave, como oncologia ,diabetes, hipertensão, doenças
pulmonares, saúde da mulher, saúde do homem, planejamento familiar e outras
mais tiveram protocolos e incorporações de tratamentos no âmbito do SUS. As
doenças raras, antes totalmente negligenciadas, hoje tem seu acesso ampliado,
mesmo que através de ações judiciais baseadas no direito constitucional à
saúde, e já caminham regulamentações nesse sentido.
Companhias experimentam crescimentos de dois dígitos, o
mercado no seu todo também apresenta crescimento de dois dígitos, mas é
fundamental que se entendam muito bem os desafios e oportunidades descritos
neste artigo para que finalmente se delineiem as melhores estratégias e planos
para um bem-sucedido start-up.
Nossa empresa está à disposição para um seminário sobre
start-up e recomenda uma visita ao nosso site www.devaney.com.br e também a apresentação
anexa a este artigo.
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